quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Cinco sentidos e uma flor

Aquele cheiro de bebê impregnava toda a casa sempre que ela fechava os olhos.Em seguida,seu paladar sentia o gosto da bala de menta somado ao som das balas que ele mastigava,uma atrás da outra,uma atrás da outra...Depois,a mesma música: "Meu amor,vamos falar sobre o passado depois porque o futuro está esperando por nós dois....".Era no refrão que o rosto entristecia e ela cantarolava "ENTÃO ME DIGA, QUANTAS VIDAS VOCÊ TEM?".A culpa ou qualquer outro sentimento tomava conta de tudo, mas aos poucos,como se a envolvesse em um abraço único,o todo se acalmava.Abria os olhos lentamente,observava as paredes brancas e a cama,a cama vazia do ele.
No quarto,havia só uma cor,uma flor rosa envelhecida - embrulhada cuidadosamente em papéis e fitas,também rosados- que já não exalava cheiro,tão pouco alegria.Contudo, ela dedicava seu tempo a cuidar da unica lembrança palpável restante.O vaso era diariamente colocado ao sol,aguado, recolhido.E assim...  Adormecia, olhando para a aquilo como se nos olhos de alguém.
Dia-a-dia,o cheiro,o gosto,a música,o abraço,a flor...
O grito foi o que destoou
"Então saca logo essa arma
e acaba com o que restou!"
Após abrir os olhos e entender a cama vazia,o grito.Na ocasião, não ocorreu o cuidar de nada mais.E a cor,singular, ali presente, foi se apagando,se apagando,apagando,apagan,apag,apa,ap,a...
Me lembro bem do nome dele,nome de anjo.O nome dela.... não me recordo, sei que era bonito e muito comum naquela época.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Grande amigo-Amigo grande

Caminha a meu lado enquanto adoço a boca com chuva,enquanto amargo com o sal de outras águas.Abraça. Sussurra no seu tom : Vai dar certo!.Por três anos,ao menos,me abraça.Não solta.E eu subirei sempre aquele  degrau ,para olhar nos teus olhos e sorrir no teu sorriso.
Sinto frio.A claridade incomoda.Observo as paredes:não são as minhas.A cama é dura demais.Aquela janela,muito pequena,minha,não é.O tênis e o dia, largados, tão pouco meus.A língua impregna gostos do ontem, nem eles,a mim pertencem.Nem mesmo o amor.